sábado, 29 de dezembro de 2007

A guerra pela TV


A charge foi retirada do site dos Malvados e o poema escrito pelo meu pai está no livro Assalto à Cidadela dos Deuses.



A guerra pela tv

Deve ser louco quem senta seguro na sala
enquanto a vida dos outros
está por um míssil, uma bala


Porque a vida nunca é dos outros
É de todos
ou de ninguém.


Deve ser louco quem faz da tela uma cela
e assiste calmamente à morte
pouco antes da novela.


Cláudio Carvalho


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Para Helena

Abaixo poema de Edgar Allan Poe. O poema "Para Helena" descreve um encontro em um jardim enfeitiçado aonde o protagonista encontra pela primeira vez a amada que instantes depois "se desfaz" na neblina do jardim, sobrando apenas os focos luminosos de seus olhos que se transformam em estrelas.

Para Helena

Vi-te uma vez, só uma, há vários anos,

já não sei dizer QUANTOS, mas NÃO MUITOS.
Era em junho; passava a meia-noite
e a lua, em ascensão, como tua alma,
nos céus abria um rápido caminho.
O luar caía, um véu de seda e prata,
calma, tépida, embaladoramente,
Em cheio, sobre as faces de mil rosas,
que floresciam num jardim de fadas,
onde até o vento andava de mansinho.
Caía o luar nas faces dessas rosas,
que morriam, sorrindo, no jardim
pela tua presença enfeitiçado.

Toda de branco, vi-te reclinada
sobre violetas; e o luar caía
sobre a face das rosas, sobre a tua,
voltada para os céus, ai! de tristeza!

Não foi o Destino, nessa meia-noite,
não foi o Destino (que é também Tristeza)
que me levou a esse jardim, detendo-me
com o incenso das rosas que dormiam?
nenhum rumor. O mundo silenciara.
Só tu e eu (meu Deus! como palpita
o coração, juntando estas palavras!)...
Só tu e eu... Parei... Olhei...
E logo todas as coisas se desvaneceram.
(Lembra-te: era um jardim enfeitiçado.)
Fugiu a luz de pérola da lua.
Os canteiros, os meandros sinuosos,
flores felizes, árvores aflitas,
tudo se foi; o próprio odor das rosas
morreu nos braços do ar que as adorava.

Tudo expirara... Tu ficaste... Menos
que tu: a luz divina nos teus olhos,
a alma mos olhos para os céus voltados.
Só isso eu vi durante horas inteiras,
até que a lua fosse declinando.
Ah! que histórias de amor se não gravavam
nas celestes esferas cristalinas!
que mágoas! que sublimes esperanças!
que mar de orgulho, calmo e silencioso!
e que insondável aptidão de amar!

Mas, afinal, Diana se sepulta
num túmulo de nuvens tormentosas.
tu, como um elfo, entre árvores funéreas,
deslizas. Só TEUS OLHOS PERMANECEM.
NÃO QUISERAM fugir e não fugiram.
Iluminando a estrada solitária
de meu regresso, não me abandonaram
como o fizeram minhas esperanças.

E ainda hoje me seguem, dia a dia.
São meus servos - mas eu sou seu escravo.
Seu dever é luzir em meu caminho;
meu dever é SALVAR-ME pro seu brilho,
purificar-me em sua flama elétrica,
santificar-me no seu fogo elísio.
Dão-me à alma Beleza (que é Esperança).
Astros do céu, ante eles me prosterno
Nas noites de vigília silenciosa;
e ainda os fito em pleno meio-dia,
duas Estrelas-d`Alva, cintilantes,
que sol algum jamais extinguirá.



sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Os esquecidos

Gente que mora no esgoto,
gente que vive na rua,
gente que esquecem que é gente
gente que o voto não conta

gente que se sente vazia
gente que conhece o diabo
gente que não tem documento
gente que não tem um passado

gente pelas quais nós passamos
e nunca olhamos nos olhos
pra não ver a que ponto chegamos
por ter, ou não ter algum sonho

Lucas Araujo

Vincent

O curta-metragem Vincent de 1982 é o primeiro com assinatura oficial de Tim Burton, cineasta estado-unidense amante dos filmes de terror que possui como particularidade o comum uso de elementos de festas como Halloween e Natal. Tim Burton tem em sua filmografia filmes e animações conhecidas como: Edward Mãos de Tesoura, Beetlejuice (Besouro Suco), A Noiva Cadáver, Batman, Batman - O Retorno, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Marte Ataca.
Vincent Malloy é um menino solitário de 7 anos com a imaginação fértil que queria ser Vincent Price, ator de filmes de terror da década de cinqüenta até a década de setenta. O curta foi desenhado, escrito e dirigido por Tim Burton.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O Lenço

O texto fala principalmente de solidão. O personagem principal e narrador é um homem insone que não sabe a quantos dias passa sem dormir e começa a se sentir perseguido pelo sobrenatural mesmo com suas convicções materialistas, o desfecho é a canalização de toda culpa de sua insônia para um foco.


O Lenço

Sou um homem certo de minhas convicções materialistas, e talvez por isso passe as noites insone refletindo sobre o mal do mundo, agregando a este mal todo tipo de superstição ou crença, alegando que apenas pela verdade definitiva do materialismo poderíamos encarar os problemas de frente sem recorrer a seres cósmicos de poder astral e/ou divino. Antecipei minhas convicções materialistas para que quando lesse meu relato tivesse certeza que não foi escrito por um místico ou mesmo por um canastrão comum dos que lucram pela fé alheia, como feiticeiros modernos ou às vezes denotado pastor, mesmo que tal trabalho do real pastor não demande das ovelhas qual onerosa quantia além do próprio pelo. O fato é que para um homem insone nada é mais perturbador do que a possibilidade de não dormir, e é neste ponto que introduzo o caráter surreal da experiência que vivi, principalmente para mim.

Fazia oito noites que não sabia se dormira ou se estivera acordado, fora o sensível aumento da minha irritabilidade e de minhas olheiras, a falta do sono noturno ou a falta do conhecimento se houvera dormido a noite, não afetaram minhas funções biológicas nem me deixaram doente, por isso continuava indo normalmente ao trabalho, mas estava cada segundo mais preocupado quanto a minha condição insone, tanto que por vezes dispensava Carmem assim que eu chegava do trabalho e punha-me a tentar dormir desde de tarde, aumentando mais aínda meu suplício quando alcançava as quatro da manhã e eu lembrara de ter ouvido todas as badaladas desde antes do silêncio da rua que normalmente dava-se às meia-noite. Passara um mês sobre estas condições, procurei um médico que aparentemente duvidou da minha condição de insone crônico por concluir que minhas condições físicas estavam demasiadamente em ordem para que tal quadro estivesse efetivamente acontecendo. Alegou que eu estava sob forte estresse e por isso não aproveitara minhas noites de sono e conseqüentemente, ao acordar, não sabia se dormira. Recomendou-me um psiquiatra especializado e me concedeu um atestado médico para que pudesse faltar ao trabalho por uma semana. Disse que após essa semana de folga eu não precisaria do psiquiatra pois meu afastamento do trabalho me faria tão bem que o referido tratamento psiquiátrico seria desnecessário.

E assim foi. Depois dos sete dias estava recuperado, mas não por noites de sono bem dormidas.

Os primeiros dias de minha folga mantive atividades simples: assistia TV, utilizava o computador e dispensava Carmem cedo para que pudesse tentar dormir. O insucesso do meu sono nestes primeiros dias me fez começar a acreditar que dormir não dependia só de mim. Fora algum fator externo que me impedia. Aumentara a cada dia a minha repulsa por Carmem, certo dia a dispensei antes mesmo que ela entrasse em casa. Tudo nela me irritava: o seu cheiro barato de leite de rosas, as suas unhas mal feitas de lavar louça e principalmente seu lenço que protegia seus cabelos desgrenhados enquanto ela fritava algo gorduroso. Já pelo terceiro ou quinto dia percebi que o problema era ela, e suas maneiras. O seu jeito suburbano de ser deixava claro até para mim que ela era uma feiticeira.

Eu ouvia vozes na minha cabeça, algumas diziam para demiti-la, outras diziam para atirá-la da janela, mas todas concordavam em um ponto: eu deveria antes retirar dela e amarrar o lenço gorduroso na maçaneta da minha porta. Este lenço seria a razão da minha insônia. Um lenço enfeitiçado que ela vinha trazendo a minha casa desde sempre. Com uma faca eu a degolei, com uma serra para vergalhões eu a cortei em pedaços, que conservei em um refrigerador e joguei fora aos poucos durante o mês seguinte. Amarrei o lenço na porta e então descansei o sétimo dia inteiro para que só fosse acordar no oitavo e ir trabalhar.

“E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito”. (Gênesis 2:2 RA).


quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

1 - Sobre o primeiro post


O primeiro post do meu blog é sobre o motivo do nome e o motivo do blog. Segue abaixo poesia de Allan Poe chamada "Um Sonho Num Sonho" (Dream Within a Dream). Trata-se de uma abordagem sobre realidade alternativa muito interessante, sobre o que se vê e do que se quer ver.
O motivo deste blog é difusão de coisas que eu gostei e coisas que pra mim acrescentaria ou pelo menos divertiria muito todos que conheço/gosto. Útil ou não tenho vontade de dividir com as pessoas meu interesse por certos assuntos, dentre eles Edgar Allan Poe, escritor Norte Americano nascido 19 de Janeiro de 1809 e falecido 40 anos depois. A leitura não é um dos hábitos predominantes no meu dia-à-dia mas quando leio Allan Poe tenho vontade de ler cada vez mais e de espalhar de modo acessível (Blog) ou contar com adaptações (minhas) as histórias fantásticas escritas por ele. Allan Poe é o escritor de textos famosos como O Corvo e O Poço e Pêndulo e outros textos menos famosos porém não menos legais.Na imagem acima vemos seu retrato na parte de baixo e elementos usualmente utilizados nos textos de Poe: Caveiras, corvos, trevas. Apesar de parecer "dark" demais, Allan Poe é irônico. Talvez triste, mas sem perder a perspicácia em descrições sobre a alma humana.
Quanto ao blog, não tenho nenhuma formação acadêmica e nenhum interesse cultural. É simplesmente um modo de difundir meus interesses e idéias. Se não concorda com opiniões aqui expressas ou encontrou informações erradas e incoerentes isso pode ser porque inventei a informação ou porque não busquei fontes adequadas. Um beijo do gordo. huehueh :D

Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?