quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Depois do depois

Depois do depois

E depois de milênios no céu
o tédio me fez ver que estava no inferno
Passei minha vida esperando por isso
mas hoje odeio essa imensidão azul

Rio azul Aqueronte, chamado céu
Caronte sempre nos conduz ao Tártaro
a vida entediante me conduziu ao enfarto
estou a léguas de qualquer felicidade

Estou no céu
mas sinto o próprio inferno queimando
sou mesmo assim, não sei colher o dia
sem ansiar o posterior
Não sei colher do céu sem ansiar o inferno

Sou como um câncer nas entranhas divinas
as dúvidas que Ele plantou em mim
estigam-me a colher respostas insatisfatórias

E depois do depois me rendo a Caronte
encontro Hades que me confunde dizendo:
- Eu sou seu depois do depois,
sou sua resposta final

- Agora que enfrentou Cérbero,
a travessia de Aqueronte
por uma vida inteira de dúvidas
tem coragem de enfrentar-me ou tem medo de enlouquecer?

Lucas Araujo

Um comentário:

  1. Tá do caralho, Lucas. Especialmente o começo. Parece Blake ou Baudelaire. Só achei que você enjoou da brincadeira, no final. Está maravilhoso e acho que, um dia, você vai voltar a ele para finalizar.

    ResponderExcluir